segunda-feira, 3 de novembro de 2008

(...)
"Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor
pois se eu me comovia vendo você
pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você
dormindo meu Deus como você me doía
vezenquando eu vou ficar esperando você numa tarde
cinzenta de inverno bem no meio duma praça
então os meus braços não vão ser suficientes para
abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta
mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo
enorme só olhando você sem dizer nada só
olhando olhando e pensando meu Deus
ah meu Deus como você me dói vezenquando"
***
(Harriett, O Ovo Apunhalado, Caio F. Abreu)
...
"
- Podia esperar de qualquer um essa fuga, esse fechamento. Mas não em você, se sempre foram
de ternura nossos encontros e mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos nos
reconhecíamos precários, carentes, incompletos. Meras tentativas, nós. Mas doces. Por que
então assim tão de repente e duro, por quê?
"
.
****************************
.
"
- É esse gelo por dentro que eu não consigo entender. Você se doou tanto quando eu não pedia, e
no momento em que pela primeira vez pedi, você negou, você fugiu. É esse seu bloqueio de aço
encouraçando o silêncio, eu não consigo entender
."

(Diálogo, O Inventário do Irremediável, Caio Fernando Abreu)
..
"EPIFANIAS"
..
Noite estranha, pensamentos pairam no ar, confusos, intrínsecos, longe, longe, longe...
"Espio para fora de mim e vejo as coisas que não são mais minhas", que talvez nunca foram. Você me pergunta o que está acontecendo, ai quem dera eu saber explica-lo, queria na verdade te agarrar, tão fundo, tão fundo, que nenhuma força pudesse arrancá-lo de mim.
Queria na verdade retardar, congelar, petrificar, os momentos que estás ao meu lado, tão meu que chego a acreditar que deveras o é. E sempre que vejo aos poucos você saindo, sinto cada vez mais o momento fadado a chegar, o momento que ignoro, que escondo, que finjo não ver cada vez mais próximo de mim.
Como é que se explica as coisas que sabemos apenas sentir?! E eu sinto tão forte tão assazmente forte, que as palavras não conseguem atingi-los tão fundo para assim explicá-los.
Talvez eu esteja falando besteiras, talvez eu esteja sendo piegas demais, o que normalmente não demonstro com meus atos, com as palavras que pronuncio, mas as vezes acho que você compreende tão bem o que eu gostaria de te dizer (e não consigo, até tento, mas não consigo!). Sei que você percebe pelo meu jeito desconcertante de te olhar, pela voracidade que te beijo, pela necessidade que tenho do teu abraço. Sabes que o momento que me sinto mais segura é quando tuas mãos tocam as minhas, é nessa hora que sinto o tempo parar, não consigo ver mais nada, a não ser a lentidão dos momentos que prosseguem entre nós, eu guardo tudo... minuciosamente.
Acho até que se eu pudesse demonstrá-lo tão intensamente como sinto, você sairia correndo, assustado, pois é tão forte, que eu mesma chego a ter medo.
Mas não precisamos do medo não.. apenas do abraço, do afago.. pois é nesse momento que qualquer palavra pronunciada se torna desnecessária.
...
(Saudade!)
Edilane Ferreira*